sábado, 7 de março de 2009

O mundo dos estereotipados (Daniela Costa)


Fico pensando no sentido exato da palavra “Preconceito”. Sim, porque nem sempre ele é explícito, descarado. Muitas vezes ele é traiçoeiro, dissimulado, mas nem por isso, deixa de ser voraz.
O preconceito é uma doença contagiosa, e seu antídoto, está longe de ser criado. Ele se apresenta de formas variadas. Existem aquelas manifestações mais sutis, como aquele risinho irônico, aquele olhar enviesado, ou aquela indiferença mal dissimulada. Em algumas ocasiões, ele se apresenta de forma mais agressiva, escancarada. É quando se ofende a cor, o credo, as crenças políticas, sexuais, o time de futebol, ou até se xinga a mãe de alguém. Na maioria das vezes, julga-se os outros por sua condição social, como se em sã consciência alguém tivesse escolhido nascer pobre, e viver na miséria.
Existem aqueles que dizem não ter preconceito, mas na primeira oportunidade que tém, se referem às pessoas através de estereótipos do tipo: “O filho da minha empregada”, “A mulher do porteiro do meu prédio”, ou até, “A menina que trabalha lá em casa”. Será que estas pessoas não possuem nome?
Outras vezes, quando o problema é pessoal, tende-se a desacatar a vizinha, “que por ser gostosona, é considerada uma desavergonhada”, o colega de sala, “que por tirar boas notas, é claro que é um baba ovo”, o companheiro de trabalho, “que por ter um bom relacionamento com o chefe, é um puxa saco”, a amiga, “que por ser bonita, é metida”, e assim vai se estereotipando todo mundo que se encontra pela frente.
As empresas abrem vagas, e muitas vezes, só contratam por indicação. Qual o problema com o resto da população? Será que não merecem uma chance para tentarem se inserir no mercado de trabalho?
Quando é um processo aberto, os profissionais que realizam a seleção nem sempre estão preparados para a função. É, porque se olharem para você e se sentirem ameaçados, esquece! Se por uma falta de sorte você for mais bonito, mais comunicativo, mais inteligente que o entrevistador, foi-se para o ralo a oportunidade de conseguir um novo emprego.
O crivo do preconceito é bem pessoal. Alguns professores, quando dominam uma determinada disciplina, olham para os alunos como se eles fossem uns ignorantes. Como se os alunos tivessem passado uma vida inteira, por conta de estudar aquele assunto.
Alguns chefes, mal cumprimentam seus subordinados, por se sentirem na mais alta esfera do espaço sideral. Sendo que educação, dizem, vem de berço. E a prepotência, deve ter nascido junto, no mesmo parto né?
O jovem que conhece de carros, motos, fala inglês, francês, viaja sempre para o exterior, se sente superior ao rapaz que trabalha na roça, conhece de boi, vaca, plantação, horta, e de vez em quando, vai à cidade. Agora, superior em quê? Não é através do trabalho de milhares de agricultores, que a sociedade se mantém?
A menina, que com suas madeixas lisas e loiras, se sente mais bonita que a colega que possui cabelos negros e crespos. Mas, não é verdade que a beleza está nos olhos de quem vê? Então, rendamos graças à diversidade genética. Senão, seríamos todos, literalmente iguais.
A madame, que esbanja dinheiro comprando roupas de grife, bolsas e sapatos importados, muitas vezes desdenha o vestuário simples das demais mulheres. Mas qual a diferença? O fato de alguém não se vestir como uma Barbie, influência em seus valores, em sua postura ética, profissional ou pessoal?
O cara, que curte um som sertanejo, música de raiz, é inferior ao que ouve ópera? Não seria uma questão puramente de gosto musical?
Pois é, o mundo dos estereotipados é bem amplo e seria impossível especificar todos de uma só vez, e é bem provável que todas sejamos vítimas e algozes neste universo. O que vai fazer a diferença, é o ponto de vista de cada um. O que não podemos esquecer, é que no final, tudo e todos, possuem o seu valor. E todos, mais cedo ou mais tarde, irão retornar ao pó.