quinta-feira, 23 de abril de 2009

Fios de Prata (Daniela Costa)


É sempre assim, em um dado momento da vida, quando você menos espera, eles aparecem. Silenciosamente, sem alardes, nem aviso prévio. Chegam sorrateiramente, como se fizessem questão de lhe provar que você não possui o controle sobre tudo, e muito menos, sobre a linha do tempo.
Traiçoeiros, tentam se camuflar para mostrarem-se pouco a pouco. Podem ser interpretados de várias formas. Uns agregam-lhes valores, e os transformam em sinônimo de sabedoria e aprendizado. Outros, já os vêem de forma negativa, um sinal de que os dias estão se passando, sem retorno, como se não tivéssemos outra escolha, senão seguir em frente. Muitas vezes, eles nos provam que a infância e a juventude, são vividas apenas uma vez.
Eles também possuem o poder de nos fazerem refletir. Olhar para trás, e analisar nossas atitudes, sentimentos, emoções. Às vezes, assustamos-nos com o que já fomos capazes de falar, fazer e planejar...
Em certas ocasiões da vida, quando deparamos-nos nitidamente com eles, fazemos um retrocesso e visualizamos aquilo que foi aproveitado, e também tudo o que foi desperdiçado, e desprezado por nós. Nisto se incluem oportunidades que deixamos de lado, momentos especiais que não nos permitimos viver, e principalmente, pessoas que tivemos o dom de descartar!
Mas o lado bom de tudo isso, são aquelas saudosas recordações. Lembranças que fixaram-se em nossa memória através da solda do tempo. Quantos momentos alegres em família. O chamego da mãe, a seriedade do pai, as peraltices dos irmãos, as artes que fazíamos escondidos, achando sempre que ninguém nos descobriria. O primeiro amor, que no fundo, talvez não tenha passado de um sonho de criança. Os amigos queridos, eternamente guardados em nossos corações. Os sonhos de meninos e meninas de tornarem-se astronautas, médicos, veterinários, jogadores de futebol, cantoras, dentistas, modelos, artistas de cinema.
Quanta coisa boa eles, nossos tímidos fios de prata, nos fazem recordar, trazendo-nos a sensação de dever cumprido. Ao emoldurar nossas faces, estes, às vezes temidos cabelos brancos, afloram dentro de nós, lágrimas de gratidão, reconhecimento e respeito, por toda a nossa história, e por todos aqueles que fizeram parte dela!