segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Leão dono de circo - Gustavo Dias



Meu peito arde
arde sem respeito.
Arde a ilusão que sopra, enquanto
cubro meu espanto
e me deito
a sonhar
beijos invisíveis e noites
recortadas; navios piratas.
Arde, agora (sempre), meu corpo;
mão que não toca a tua
boca
isenta de meu beijo. Assim, invento-te
assim, corrompo
o tempo e engano a mim mesmo.
Engano, mas te vivo a meu modo:
irreal e submisso; leão dono de circo clandestino.
Arde, arde esse silêncio
que grita
clichês poéticos
vozes patéticas a ganhar forma, vida
e morte;
vozes que não existem, nada existe
senão essa vontade de voz
que persiste
- deixada à própria sorte –
em ser algo: trincheira, poema,
talvez
faísca leve sob a chuva noturna.






sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Hoje

Hoje sinto vontade de colocar no papel aquilo que meus lábios não ousam dizer.
Com a caneta na mão perco o medo de relembrar o que muitas vezes gostaria de esquecer.
Ainda exito em borrar a folha em branco, mas aos poucos percebo que nas entrelinhas está sendo escrita a história da minha vida.
Assim, vou descobrindo os pequenos milagres que muitas vezes mudaram o curso do meu destino.
Dias acinzentados que ficaram para trás...
Noites frias que ainda estão por vir...
Mas, não serão estes contrastes que nos impulsionam a viver?
Paixões que se foram como folhas secas ao vento; amizades conquistadas nos servindo de alento.
Alegria, dor, solidão, amor...
Cada um protagonizando sua própria história em roteiros inesperados, às vezes, desesperados, e com uma única certeza:
tudo acontece a seu tempo.
Alguns seguem recolhendo os pedaços de si mesmos.
Outros buscam o segredo do cofre da felicidade.
Muitos usam a máscara da falsidade para camuflar a peste do preconceito. Como se fosse possível não refletir na face aquilo que se leva no coração.
Mas seja com passos firmes, ou aos tropeços, sinto que cada dia é um novo recomeço, uma nova possibilidade.
Porque a vitória não é dos que não sofrem, mas sim daqueles que aprendem a conviver com a dor.